sábado, 7 de janeiro de 2012

Lost.

E aqui estou eu, sentada no chão do meu quarto. Fechada dentro destas quatro paredes onde tento descobrir os segredos do mundo. Percorro agora uma estrada comprida sem conseguir avistar o seu fim. A única coisa que vejo bem ao longe, é o horizonte. Vejo o sol quente junto às nuvens num fim de tarde, bem longe de mim. Tão quente como este asfalto que piso com os pés descalços. Queimo-me, mas mesmo assim não páro. Antes pelo contrário. Ando mais depressa para que o sofrimento não seja tão doloroso. Como quando estamos na praia e sentimos a areia a escaldar. Começamos a correr para rapidamente chegarmos ao chão. Começei então a correr. Queria que este queimar fosse mais suave, mais suportável. Mas tenho outro objectivo. Quero percorrer esta estrada. Quero chegar ao fim com cicatrizes, com os pés queimados. Quero suar com os raios que o sol sentiu necessidade de me mandar. Quero ser só eu e a estrada. Eu e o asfalto. Eu e a dor. Quero falar com ela. Compreendê-la. Suavizá-la. Quero chegar ao fim e encontrar-te. Quero sentir o horizonte, não apenas avistá-lo. E continuo a correr ingenuamente com a esperança de chegar a ti. De puder ver de perto a mesma beleza que me transmites de longe. Puder tocar-te e sentir as tuas mãos macias, ou até mesmo enrugadas (quem sabe). Quero olhar-te de perto e perguntar-te se eras capaz de percorrer a mesma estrada, queimando os pés no asfalto e levando com os raios calorosos do sol. Por mim. Assim como eu a percorro por ti.
Não quero que a noite chegue. Quero que demore a chegar. Preciso de chegar a ti antes do anoitecer. Preciso de alcançar-te rapidamente para que não caia na amargura da noite que me faz pensar em ti.
Estou quase. Começo então a ver o fim da estrada. Olho para trás e vejo os quilómetros que percorri, sempre por ti. Para alcançar-te, para puder finalmente realizar o nosso encontro.
Pisei a meta. A estrada terminou. E não te avisto. Sumiste para mais longe ainda.
Estou exausta! As feridas que o asfalto me proporcionou, impedem-me de continuar. Caio no chão. No fundo, eu já sabia. Como se tivesse tido uma premonição que me dizia que tu não existias. Que a tua existência era fruto da minha imaginação. Que em tempos senti as tuas mãos quentes apertarem as minhas. E não, não eram enrugadas. Eram macias, quentes, e fortes, e ancoravam as minhas. Ásperas, frias e completamente indefesas. A tua existência encontra-se perdida entre o meu passado e a minha imaginação.
Percebi então que percorro esta estrada todos os dias. Percebi que todos os dias os meus pés se queimam no asfalto por te quererem encontrar. Mas não te encontro. Sabes porquê? Porque estou apenas sentada no chão do meu quarto, dentro das minhas quatro paredes, onde tento -em vão-, descobrir as respostas para a tua ausência. As respostas para as perguntas sem resposta que existem no mundo. E é por isso que volto sempre ao chão do meu quarto. Porque é este mesmo chão que me ampara, que não me deixa passar dele. É ele que me mostra que esta é a minha realidade, e que a única coisa que posso fazer em relação ao horizonte, é apenas avistá-lo. Nunca alcançá-lo.



Daniela Teixeira

3 comentários:

  1. está lindo Daniela, como sempre. cheio de sentimento e descrição. parabéns*

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  2. Adorei, Daniela. Adorei mesmo. Mas sabes? As tuas palavras tiveram em mim um efeito um tanto oposto do que aquele que te as fez escrever.
    Tu motivaste-me a percorrer a minha estrada, a chegar ao fim com cicatrizes, com os pés queimados, a suar com os raios que o sol sentiu necessidade de me mandar.
    Motivaste-me a ir, a correr atrás do que quero para suavizar a dor da ausência das coisas, do meu sedentarismo ou (quem sabe se não lhe podemos chamar assim?) preguiça, conformismo. Quero sentir o horizonte, ver de perto a mesma beleza que ele me transmite de longe. Quero mesmo! E é isso que vou fazer, queime o que queimar, sue o que suar. Se é aquilo que realmente quero, então vale a pena, pois é isso que faz de mim quem sou.
    Escuta: parece-me que falas de alguém. Não sei se é alguém em concreto ou se estavas a escrever puramente por inspiração súbita, porque te apeteceu e porque a tua veia artística falou para se fazer ouvir. Mas, de qualquer forma, não me custa nada comentá-lo (se for o caso): alguém, de mãos macias ou enrugadas (quem sabe), existe mesmo e chegará, não à tua vida (se é que me entendes), mas sim aos teus braços, para fazer justiça a todas as cicatrizes. Afinal, acreditas ou não acreditas no teu valor? Pois olha que o tens, olha só para ti, aí, guerreira!

    Um ♥ para ti. É a primeira vez que te comento algo (se não estou enganada). Continua! Tens muito jeito!

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