segunda-feira, 4 de abril de 2011

4.4.10

Passeio por estradas lamacentas, caminhos árduos entre ventos e tempestades. Por vezes caio nos buracos mais profundos, percorro as grutas mais obscuras á espera da chamada luz ao fundo do túnel. Vou escalando montanhas, algumas vezes evarestes. Por vezes escorrego, por vezes caio, por vezes hesito e em alguns casos deixo mesmo de prosseguir. Mas nenhum ser humano é de ferro. E mesmo depois de todas as dificuldades, de todo o frio, de todas as quedas, de toda a escuridão e até mesmo do cansaço quer físico quer psicológico, sucede-se uma explosão. Explosão de sentimentos, angústias, arrependimentos, tristezas, lamentos e de uma série de energias negativas que me fazem pensar se de facto valeu a pena. Se valeu a pena ter morrido ao frio quando tinha quem me aquecesse. Se valeu a pena percorrer caminhos impossíveis e árduos quando podia ter optado pelos mais fáceis. Se valeu a pena percorrer a escuridão enquanto podia ter observado aquilo que o mundo tem para me mostrar. Se realmente valeu a pena ter escalado as montanhas mais altas para no fim, quando acabei por chegar ao topo não ver absolutamente nada a não serem cicatrizes na minha própria pele. Cicatrizes de uma vida, provocadas pelas batalhas que nem sempre foram vencidas, que nem sempre trouxeram o misto de sentimentos necessários ao meu bem-estar. Terá valido a pena o sacrifício de toda uma vida para no fim receber o mesmo que aqueles que ficaram a observar-me? Talvez tivesse sido mais fácil ter-me encostado a um penedo, ter ficado a observar os raios da tempestade, a profundidade das coisas, a luminosidade que me encandeia, a beleza das montanhas numa tarde de fim de verão, e não me ter submetido á escolha mais difícil. Às vezes não são os caminhos mais difíceis que nos abrem portas, mas sim a maneira como percorremos esses mesmos caminhos. Depois das estradas percorridas não cheguei propriamente ao meu destino. Depois das tempestades e ventos ultrapassados não encontrei um abrigo onde me pudesse resguardar. Depois das quedas não vi a dita recompensa, e muito menos encontrei a luz ao fundo do túnel. Mas depois de todas as feridas, arranhões, cicatrizes, lesões e tudo mais, ainda há algo que persiste em mim, e que jamais me irá abandonar. A esperança.

Daniela Teixeira *