domingo, 8 de julho de 2012

VFX


Todos nós sabemos onde nos sentimos bem, onde nos sentimos em casa. Foi precisamente o que aconteceu. Mas eu não me senti em casa, senti que regressei a casa. Explorei de novo todos os cantos com uma nostalgia enorme. Nostalgia essa por saber que outrora já teria percorrido todas as pedras daquela calçada. Sim, a minha casa tem uma calçada. Tem touros. Tem paixão. Tem tradição. Tem uma pitada de medo misturada com ansiedade. Tem sardinhas, pão e muito vinho. E tem música. Deusa essa que passou e arrasou alguns corações. Inclusive o meu. O meu coração pertencerá sempre a muitos lugares. Mas pertencerá sempre mais a uns do que a outros. Regressei a casa e tornei-me inquilina por uma noite. Vi o teu sorriso que julguei ter ficado perdido numa noite de verão longínqua. Recuperei-o e substitui-o na minha memória. Um sorriso com paixão, com amor. Estranho não foi só voltar a casa, foi voltar a casas que percorremos todos juntos e que se perderam por aí. Por essa cidade rústica que tanto me aquece, tanto me aconchega o lado esquerdo do peito.
Daniela Teixeira

segunda-feira, 2 de julho de 2012

2.07.2012


Não sei exactamente como etiquetar o que vou começar para aqui a escrever mas certamente que não será uma treta. Talvez tenha um quê disso, mas não o será por completo. Hoje vou deixar de lado a minha faceta de pessoa educada e madura de lado e vou substituir, doa a quem doer, o meu modo de escrever pelo meu modo de falar. Só para para fazer entender a certas pessoas que quem toma as decisões na minha vida sou eu e mais ninguém. Se não são os meus pais que me condenam por aquilo que eu decido ou não fazer na minha vida, também não serão vocês certamente que terão de fazê-lo. Ainda que um  deles tenha o quarto ano e outro o nono, e que não percebam propriamente como funciona o ensino regular e os cursos profissionais (embora saibam que aquele que escolhi não tem exactamente a melhor das saídas), nunca me colocaram entraves. O sonho do meu pai era ver-me como engenheira. Mas esse é o sonho do meu pai. Ou seja, o meu pesadelo. O sonho da minha mãe era ver-me ligada à medicina, como quase todas as mães e os pais desejam. Mas isso, é apenas o sonho da minha mãe. Tenho a plena consciência de que terá alguma saída. Embora também ache que hoje em dia não haja nada que tenha saída. De qualquer modo, nada disto me atormenta. Prefiro acabar a minha vida atrás de um balcão mas sabendo que lutei sempre pelos meus sonhos, do que ter de chegar ao pé de alguém e dizer que o sujeito A tem uma cirrose biliar; que sujeito B tem cancro da mama e pouco tempo de vida; ter de suportar o cheiro a éter durante horas. Esse não é o meu mundo. Eu não nasci para isso. Sempre soube disso. Fico grata por todas essas pessoas existirem. Respeito imenso esse mundo e quem tem estômago para ele. Eu simplesmente não tenho. Não me identifico em nada com esse mundo. Gostava que as pessoas tivessem a mente mais aberta, e alargassem melhor os horizontes. Esta ideia estúpida de quem não segue Ciências está a fugir a matemática é a ideia mais estapafúrdia de todo o sempre. Sim, há muitos alunos que o fazem, sem dúvida. Mas isso são pessoas sem rumo, sem objectivos. Eu  não segui Ciências. Segui Humanidades porque esse é o meu mundo. Porque eu preciso de estar em constante contacto com o Mundo, com as Pessoas, com a Literatura, com a Música, com a Escrita, com toda a Arte. E quando o fiz, podem ter a certeza de que entrei no meu mundo. E neste mundo eu posso simplesmente ser o que eu bem entender. Posso até mesmo ser a médica que dedica a vida aos seus utentes e que tem de suportar o cheiro a éter para o resto da vida. Posso ser a engenheira que nunca fui. E quem não entende isto, tem sérios problemas. Quando decidi o que queria seguir fui alvo de críticas e sei que nada disso mudará. Será sempre assim. Porque as pessoas simplesmente não entendem. Nunca vão entender. Eu e os que partilham esta frustração comigo, seremos sempre aos olhos dos outros, as pessoas que mergulharam neste mundo porque não tinham outra hipótese. Mas não. Nós somos quem mergulhou neste mundo por paixão ao que fazemos e ao que nos rodeia. E nenhum de nós se arrepende disso. A paixão pode até não me levar aonde gostaria de chegar, pode até nem ser o que gostaria que fosse, mas pelo menos dá-me o que mais nada me pode dar. Sou quem quero, quando e onde quiser porque este mundo permite isso e muito mais. Na minha óptica as pessoas nascem destinadas para alguma coisa. Umas nascem com o dom do artesanato, com o dom da música… Outros nascem para dedicar as suas vidas a outras pessoas tal como os bombeiros e os médicos. Outros para a organização de eventos e para a pediatria. E certamente que todos eles terão as características indicadas para o fazer. Porque nasceram exactamente para isso. Assim como um tatuador geralmente é possuidor de uma capacidade incrédula de desenhar. Assim como um estilista tem uma capacidade incrível de desenhar roupas e depois simplesmente dar-lhes vida. Tudo isto é respeitável. Não podemos nascer todos para o mesmo. Em parte é isto que as pessoas têm de compreender. Todos nós sabemos as razões que a determinado momento nos levam a fazer ou a ser isto ou aquilo. Só nós sabemos as circunstâncias em que nos encontramos para tomarmos certo tipo de atitudes. Cada pessoa é um ser único. Livre de ser o que quiser e de se moldar de acordo com tudo o que o rodeia. Já alguém se perguntou porque é que os góticos se vestem todos de preto? Provavelmente não. Eu gosto, mas simplesmente não me identifico. Logo, não sou gótica mas também não critico quem o seja. Porque acredito que existem razões para a determinado momento uma pessoa se vestir dessa mesma maneira. Eu não tenho absolutamente estilo nenhum. Tanto abro o armário e retiro uma roupa ao acaso, como decido cuidadosamente o que vou vestir. Tanto me apetece ir a uma loja das mais comerciais que existe e vestir o mesmo que toda a gente está a vestir no momento, como me apetece vestir algo mais vintage e dirigir-me a uma loja em segunda mão. Com certeza que irei comprar aquilo com que me identifico. Querem condenar-me por isso? Acredito que haja imensa gente com vontade de o fazer. Acontece que eu não consigo estar muito tempo rodeada desse tipo de pessoas. Também não tenho estômago para isso. Gosto que as pessoas me aceitem do modo que sou. Sou muito eu em tudo o que faço. Tudo o que visto, digo, escrevo, compro,  penso, e tenho, revela um pouco de mim. Há que perceber que muitas pessoas são assim. Isso é bom! Estarmos rodeados das coisas com as quais no identificamos. No entanto, também é importante alargar os horizontes e aceitar também aquilo e aqueles com os quais não nos identificamos tanto. Desde que as pessoas se respeitem e consigam frequentar o mesmo espaço apesar de todas as divergências.
Todas as pessoas têm também a sua forma de amar. Uns não amam, gostam apenas. Esses provavelmente não entenderão o porquê de pessoas como eu ( e não só), vivermos ligadas à mesma pessoa há anos. Mas não têm que entender. Têm apenas de aceitar. Porque nunca irão conseguir compreender. Até mesmo vivendo ou tendo vivido uma situação idêntica, é impossível compreender. Cada caso é um caso, cada qual com as suas razões e em certas e determinadas circunstâncias. Ninguém poderá entender o que nos leva a permanecer num sítio quando já o deveríamos ter abandonado. E se nem nós próprios o entendemos, então muito menos os outros poderão entender.
E como já falei de mais, façam-me o favor de serem felizes. E deixem-me sê-lo também, com tudo aquilo que eu preciso para sê-lo.  Ainda que não o entendam, ainda que não concordem.
Daniela  Teixeira