quarta-feira, 23 de maio de 2012

Tu

Tu,


Talvez lamentes. Talvez lamentes as horas a fio que desperdiçámos com meros desencontros. Ou, quem sabe, os desejasses mais do que ninguém. Talvez preferisses afastar-te, quebrando o contacto e tentando – em vão – anular os próprios sentidos. A verdade é que o vento continua a soprar, o mar continua suando a melodia através do barulho das ondas. As árvores continuam a dançar mesmo quando passas. As nuvens continuam a dar as mãos como se uma aliança inquebrável as unisse. O asfalto permanece quente independentemente da intensidade do sol, e as luzes da cidade que outrora se encontravam apagadas, hoje iluminam a minha alma. Sim, eu finalmente entendi. Entendi que existe mais para além de ti. Entendi que existem as coisas simples da vida. Os pequenos prazeres. Aprendi que existo, que sinto (falta), que quero, que necessito e acima de tudo, que posso. Apenas não posso tudo o quero! E eu quero-te e não posso. Ou pelo menos não devo! Aprendi a desfrutar das linhas sem sentido que vêm nos livros. Aprendi as notas de todas as canções que em tempos partilhámos. E hoje, vivo delas. Sinto-as como se se tratassem do teu corpo a tentar encontrar o meu num fim de tarde, e as árvores, o vento, as nuvens e o mar, fizessem parte do cenário que em tempos pintámos. Julguei que irias ocupar o teu lugar. Julguei que o frio que permanece em meu redor, pudesse um dia voltar a ser substituído pelo calor do teu corpo. Mas os julgamentos não bastam. Os julgamentos não concretizam os meus desejos porque não passam disso mesmo. Desejos que não podem ser saciados. E caio em mim e entendo que não me pertences. Entendo que o que em tempos fomos, não voltaremos a ser. Agora desejo somente os pequenos prazeres da vida… a brisa que vem do mar, os raios de sol que me queimam a pele, e a luminosidade que me encandeia. Vou escrever um livro e dedicar-te um capítulo, dizendo-te que foi o mais importante da minha vida.



Daniela Teixeira
14/02/12



1 comentário:

  1. Sei que esse "escrever um livro" não era literal, mas da maneira que escreves não me admiro nada que um dia isso se concretize! Tens o tipo de escrita que eu gostava de alcançar, simples, metódica, interessante.

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