Não quero que a noite chegue. Quero que demore a chegar. Preciso de chegar a ti antes do anoitecer. Preciso de alcançar-te rapidamente para que não caia na amargura da noite que me faz pensar em ti.
Estou quase. Começo então a ver o fim da estrada. Olho para trás e vejo os quilómetros que percorri, sempre por ti. Para alcançar-te, para puder finalmente realizar o nosso encontro.
Pisei a meta. A estrada terminou. E não te avisto. Sumiste para mais longe ainda.
Estou exausta! As feridas que o asfalto me proporcionou, impedem-me de continuar. Caio no chão. No fundo, eu já sabia. Como se tivesse tido uma premonição que me dizia que tu não existias. Que a tua existência era fruto da minha imaginação. Que em tempos senti as tuas mãos quentes apertarem as minhas. E não, não eram enrugadas. Eram macias, quentes, e fortes, e ancoravam as minhas. Ásperas, frias e completamente indefesas. A tua existência encontra-se perdida entre o meu passado e a minha imaginação.
Percebi então que percorro esta estrada todos os dias. Percebi que todos os dias os meus pés se queimam no asfalto por te quererem encontrar. Mas não te encontro. Sabes porquê? Porque estou apenas sentada no chão do meu quarto, dentro das minhas quatro paredes, onde tento -em vão-, descobrir as respostas para a tua ausência. As respostas para as perguntas sem resposta que existem no mundo. E é por isso que volto sempre ao chão do meu quarto. Porque é este mesmo chão que me ampara, que não me deixa passar dele. É ele que me mostra que esta é a minha realidade, e que a única coisa que posso fazer em relação ao horizonte, é apenas avistá-lo. Nunca alcançá-lo.
Daniela Teixeira
está lindo Daniela, como sempre. cheio de sentimento e descrição. parabéns*
ResponderEliminarMuito obrigado Patrícia :)
ResponderEliminarAdorei, Daniela. Adorei mesmo. Mas sabes? As tuas palavras tiveram em mim um efeito um tanto oposto do que aquele que te as fez escrever.
ResponderEliminarTu motivaste-me a percorrer a minha estrada, a chegar ao fim com cicatrizes, com os pés queimados, a suar com os raios que o sol sentiu necessidade de me mandar.
Motivaste-me a ir, a correr atrás do que quero para suavizar a dor da ausência das coisas, do meu sedentarismo ou (quem sabe se não lhe podemos chamar assim?) preguiça, conformismo. Quero sentir o horizonte, ver de perto a mesma beleza que ele me transmite de longe. Quero mesmo! E é isso que vou fazer, queime o que queimar, sue o que suar. Se é aquilo que realmente quero, então vale a pena, pois é isso que faz de mim quem sou.
Escuta: parece-me que falas de alguém. Não sei se é alguém em concreto ou se estavas a escrever puramente por inspiração súbita, porque te apeteceu e porque a tua veia artística falou para se fazer ouvir. Mas, de qualquer forma, não me custa nada comentá-lo (se for o caso): alguém, de mãos macias ou enrugadas (quem sabe), existe mesmo e chegará, não à tua vida (se é que me entendes), mas sim aos teus braços, para fazer justiça a todas as cicatrizes. Afinal, acreditas ou não acreditas no teu valor? Pois olha que o tens, olha só para ti, aí, guerreira!
Um ♥ para ti. É a primeira vez que te comento algo (se não estou enganada). Continua! Tens muito jeito!